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Foto do escritorMaria Fátima Audino Edler

As divindades dos Vedas

Indra é o mais popular dos deuses do período inicial dos vedas, tendo cerca de 250 hinos do Rig Veda consagrados ao seu louvor. Essa popularidade de Indra pode ser vista como consequência de dois fatores.

O primeiro advém das condições climáticas da Índia, com longos períodos de seca. É ele quem destrói, com seu raio, o demônio que retém as águas, provocando o derramamento das chuvas. O outro fator relaciona-se a natureza da cultura Arya dominante. Indra é um grande herói, servindo como modelo exemplar para a casta guerreira (Kshatrya) e um terrível adversário dos Dasyas (ou Dravidas). Ele comanda as unidades guerreiras, além de ser um insaciável consumidor de Soma (bebida da imortalidade, arquétipo das forças genésicas). Os ajudantes de Indra, poderosos guerreiros Marut, refletem, na mitologia, os jovens da tradição Arya.

Em suas representações, Indra, algumas vezes, aparece com dois braços e olhos espalhados por todo o corpo (Sahasrakhsa, mil olhos); em uma das suas mãos, levam um Vajra (símbolo de soberania universal, principio masculino da manifestação, transmitido de Dyaus para Indra), na outra mão, carrega um arco para flechas ou um vaso de Soma. Ora aparece com quatro braços, em cujas mãos leva duas espadas de laminas retorcidas (simbolizando o Vajra – representação de um raio ou órgão sexual masculino), um pequeno bastão (Ankusha) usado para comandar elefantes e as rédeas de sua montaria, o elefante Airavata. Algumas vezes, aparece realizando gestos simbólicos com duas de suas mãos (Abhaya e Mushti Mudra, gesto de segurança e força) e, com as outras duas leva uma flor de lótus e uma concha (Shankha, depositária da vibração primordial responsável pela existência – também instrumento sonoro para dar inicio a rituais ou batalhas).

Indra é normalmente representado cavalgando um elefante branco (“nascido durante o batimento do mar de leite”) chamado Airavata, símbolo das energias terrestres de força, equilíbrio e firmeza. Em outras ocasiões, principalmente nos relatos inicias, Indra aparece acompanhado por um cão de caça, montado a cavalo ou conduzindo uma carruagem puxada por dois cavalos castanhos.

Ele reside juntamente com sua esposa Indrani (também conhecida por Sachi) e seu filho Citragupta (“nascido de uma vaca”) no reino de Swarga, localizado no monte Meru, centro do mundo, situado ao norte dos Himalayas, entre a terra e os céus. Swarga é um reinado paradisíaco, enfeitado por arvores e flores celestiais. Lá não há tristezas, medo ou sofrimentos de qualquer espécie, pois nele encontram-se com fartura os elementos da natureza (terra, água, fogo, ar e éter) e tudo o que deles emana.

Indra é filho de Prithivi (o elemento terra) e Dyaus (o céu diurno). Segundo as lendas, logo após nascer, Indra assassinou seu pai para apoderar-se do Vajra, conseguindo, assim, sua independência e atingindo o status de monarca. Ele também é conhecido como Sahasmuksha (“o de mil testículos”), senhor das terras, fecundador dos campos, dos animais e das mulheres. Os mil testículos espalhados pelo corpo de Indra são o resultado de uma maldição que lhe impôs seu mestre espiritual (Gautama), por ter sua esposa seduzida pelo indisciplinado discípulo. Algumas variações dessa lenda citam que em vez de testículos, Indra teve mil Yonis (vaginas) espalhadas pelo corpo. No desenrolar dessa aventura amorosa, os excessivos órgãos sexuais foram transformados em olhos devido ao pedido dos deuses junto ao sábio Gautama.

“O mito central de Indra narra seu combate contra o demônio Vritta (também denominado Ahi). Acrescentamos a seguinte versão30:

30 OURSEL, Masson. Mitologia Índia, p. 451.”

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